quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Coisas




Já tive saudades de quem nunca se lembrou de mim, já chorei por nada, já ri por tudo. Já sonhei sem esperança, já esperei e não alcancei, já magoei e fui magoada, já dei importância a coisas insignificantes, já andei quando tinha vontade de correr, já desesperei quando devia ter calma, já voei sem sair do chão, já caí e levantei-me sozinha, já criei expectativas e desiludi-me, mas também já não esperei nada e fui surpreendida. Não sou querida por todos e sou odiada por muitos, de qualquer forma, quando disseram que não gostam de mim, direi que sou eu, e isso é ser real. Desde há dezassete anos que tenho vindo a construir-me a mim mesma, mas também já desabei, e tive de voltar à estaca zero. Duas dessas vezes, dois pilares principais ruíram. O primeiro, quando desapareceu, eu era ainda uma criança, mas senti, ainda sinto. O segundo foi há dois anos. Este segundo é o que mais trabalho me tem dado a pôr no lugar, talvez porque tenho memórias mais nítidas. A minha estrutura já foi abalada vezes sem conta, o que lhe provocou fissuras, que tenho vindo a consertar sempre que posso, sempre que tento, sempre que consigo, sempre que ultrapasso metas e alcanço objectivos que nunca pensei vir a conquistar. Pior do que a morte não nos aparece e, visto que ela já me apareceu, não tenho que temer nada, não é verdade? Sim, é verdade. Depois de ter sido confrontada por ela, acho que estou pronta para tudo, ou pelo menos quase tudo.
Se a questão é ser forte, eu sou ferro. Se a questão é ser feliz, sou eterna lutadora. Se a questão é amar, eu faço de todo o meu corpo um único coração.

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