Por vezes estas coisas voltam, não é? É como as estações do
ano que vão dando lugar umas às outras, num ciclo em que as formas de vida se vão
alterando. As estações, neste caso, são a intensidade com que a saudade me
ataca e como ela o faz. As formas de vida que se alteram talvez sejam os meus
estados de espírito… se é que alguma vez ele se chegou a alterar
verdadeiramente desde aquele dia, ou se simplesmente adormeceu num sono que é
interrompido quando essa tal de saudade decide abrir a porta do quarto e acorda-lo
com o barulho mais estridente possível, para que o seu humor seja igual ao de
um desses seres diretamente vindos das trevas.
É quando aquela zona frágil choca com um pedaço de betão,
mas não causa um hematoma, abre a ferida, mais uma vez. Os pedaços daquela
linha, que parecia ser resistente a tudo e mais alguma coisa, simplesmente
rasgam, rebentam e o que acontece? Bem,
tal como acontece com qualquer ferida, volta a sangrar. Em tempos, o sangue
libertado por ela era diferente, era mais fluido, e facilitava esta
pseudocicatrização. Mas agora não é assim. Este líquido que é tão precioso, que
nos faz prender à vida ou que está ligado à morte, escrevi “morte” porque é do que realmente se trata e porque os
eufemismos já não são mais capazes de amenizar este sofrimento. Agora, o sangue
não é “libertado”, é jorrado. Agora, ele passou a ser viscoso e ,
consequentemente, a sua passagem para o lado de fora tornou-se mais dolorosa.
É doloroso, mas, contrariamente, tem toque macio como cetim.
Provavelmente, o meu corpo já se acostumou, talvez esteja mal acostumado.
Resumindo: A puta da dor voltou, e eu vou ter de voltar a
cuidar da ferida sozinha, como sempre fiz.
A maior ironia e, simultaneamente, a maior antítese de todas: O mais difícil da vida é a morte.
A maior ironia e, simultaneamente, a maior antítese de todas: O mais difícil da vida é a morte.
Com eterna saudade,
A tua miúda.
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